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Sete vezes… filmes para a era Trump

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Trump, com a atriz Megan Mullally, em performance na cerimônia dos prêmios Emmy de 2005.

“A América vai recomeçar a vencer; vencer como nunca antes.”

Assim, prometeu Donald J. Trump no seu discurso de posse como o 45º presidente dos Estados Unidos da América. Populista, contraditório, radical, polêmico, incendiário… A lista de adjetivos usada para descrevê-lo até agora é longa e extrema. E justamente por causa dessas características, parece impossível prever com razoável clareza o que fará no seu governo. 

Populistas e controversos já estiveram no poder antes—os EUA têm uma pequena tradição deles: a campanha mais suja ainda é a de John Quincy Adams e seu rival Andrew Jackson em 1828; Huey P. Long, o demagogo governador da Louisiana, poderia ter alcançado a presidência se não tivesse sido assassinado em 1935. Contudo, nada até agora se parece com um empresário que quebrou suas empresas diversas vezes, que ignora a verdade mesmo quando confrontado com os fatos, que apresenta sérios conflitos de interesses privados com o público, e que firmou sua popularidade capitaneando um reality show

Uma história só pode não explicá-lo, mas várias podem dar uma ideia significativa. Aqui vai uma lista de filmes que ajudam a esclarecer como Trump chegou lá e o que pode acontecer agora que está no topo do mundo.


1. Idiocracia (Idiocracy, 2006), de Mike Judge

Um soldado (Luke Wilson) acorda de um experimento de animação suspensa em 2506, para encontrar um país inteiro com QI mínimo. Nestas condições, ele se torna a pessoa mais inteligente do lugar. Assim, espera-se que resolva os problemas de uma sociedade à beira do colapso econômico, ambiental, intelectual, total, liderada pelo presidente Camacho, um carismático ex-lutador profissional (Terry Crews, roubando o show como de hábito). Bem, Donald Trump também participou de espetáculos de luta livre. Lançada e injustamente esquecida há uma década, esta sátira política de Mike Judge, o criador de King of the Hill e Silicon Valley, experimenta um redescobrimento. Sinal dos tempos.  (iTunes)

2. Rede de Intrigas (Network, 1976), de Sidney Lumet

O âncora de telejornais Howard Beale (Peter Finch) tem um colapso nervoso ao vivo em rede nacional. Vendo na desgraça alheia uma oportunidade, a nova executiva encarregada da programação da rede de TV, Diana Christensen (Faye Dunaway), transforma-o em profeta apocalíptico das massas e campeão de audiência. As roupas e as referências a fatos e modas de época podem ter envelhecido, mas a dinâmica do “quanto pior, melhor” tornou-se tão presente na cobertura de notícias que poucos ainda se importam. O roteiro de Paddy Chayefsky (vencedor do Oscar, assim como Dunaway, Finch e o filme) leva a situação às últimas consequências. Ao conseguir embalar e vender um homem raivoso para o povão, Diana prenuncia a diretora de campanha e conselheira do novo presidente, Kellyanne Conway. (iTunes, DVD)

3. A Grande Ilusão (All The King’s Men, 1949), de Robert Rossen

Este outro vencedor do Oscar narra a ascensão e queda de Willie Stark (Broderick Crawford, em interpretação vulcânica), um político que vem do nada para se tornar governador, embalado num discurso de moralidade e justiça, contra “tudo o que está aí”. O discurso fica cada vez mais vazio à medida em que ele se afunda em corrupção para se manter no poder a qualquer custo. Adaptado de romance de Robert Penn Warren, vencedor do Pulitzer, baseado na vida de Huey P. Long. Há uma versão de 2006, com Sean Penn como Stark, que jamais vence a caricatura. O Stark do filme de Rossen, um caipira que entra para a política com a melhor das intenções, não é Trump. O que os dois têm em comum é o discurso improvisado, talhado para vender ao eleitor desesperado exatamente o que ele quer ouvir. Se as palavras têm alguma substância, isto não passa de incômodo detalhe. Nunca um título de filme em português (o mesmo de outro clássico) foi tão adequado. (iTunes)

4. Na Hora da Zona Morta (The Dead Zone, 1983), de David Cronenberg

Johnny Smith (Christopher Walken) acorda de um coma com a habilidade de ver o futuro. Basta tocar as pessoas para descobrir o que as espera. Quando ele cumprimenta Greg Stillson (Martin Sheen), um demagogo candidato à presidência, Smith descobre horrorizado o que espera o mundo inteiro. Esta adaptação de livro de Stephen King contraria várias expectativas: o ameaçador Walken é o mocinho; Sheen, o futuro presidente bonzinho de The West Wing, é o vilão; e Cronenberg economiza na bagaceira (de filmes como A Mosca e Scanners—Sua Mente Pode Destruir). O resultado é uma mistura de drama sombrio e suspense político que, de quebra, satisfaz aquela sua fantasia distópica: o que aconteceria se um político porra-louca adquirisse controle de um dos maiores arsenais nucleares do mundo? (YouTube dublado)

5. Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, 1976), de Alan J. Pakula

Em 17 de julho de 1972, a polícia prende cinco ladrões no escritório do partido Democrata do complexo de edifícios Watergate. O jornal Washington Post manda o repórter Bob Woodward (Robert Redford) para investigar. Com outro jornalista, Carl Bernstein (Dustin Hoffman), e a ajuda de um informante muito bem relacionado (Hal Holbrook), Woodward revela uma conspiração capaz de derrubar um presidente. Pakula dirige o filme que influenciou dezenas de narrativas, de Arquivo X a Spotlight—Segredos Revelados. A história (real) que ele conta nos lembra até onde pode chegar um líder político sem nenhum pudor, mas também o papel da imprensa nessas horas. (GooglePlay, iTunes, DVD)

6. O Senhor das Moscas (Lord of the Flies, 1963), de Peter Brook

Um avião levando estudantes ingleses, de 6 a 14 anos, fugindo de uma guerra, cai numa ilha deserta. Todos os adultos da aeronave morrem na queda. Para sobreviver, os jovens náufragos se juntam e elegem Ralph (James Aubrey) como líder. Seu rival é o belicoso Jack (Tom Chapin), que logo forma sua própria tribo de “guerreiros” armada com lanças, pedras e uma faca. Altos níveis de testosterona pubescente vão colocar uma facção contra a outra. Os mais fracos, como sói acontecer nesses casos, serão as primeiras baixas, assim como qualquer apelo à racionalidade. O influente diretor teatral britânico Brook oferece a melhor versão do clássico romance de William Golding. Bastante instrutivo quando o seu presidente passa as madrugadas no Twitter, alimentando o rastilho de pólvora de um país dividido. (DVD importado, YouTube legendado em espanhol)

7. Frost/Nixon (2008), de Ron Howard

Adaptado por Peter Morgan da sua peça homônima, o filme de Howard (Apolo 13, Cocoon, Rush: No Limite da Emoção) dramatiza uma série de entrevistas dadas por Richard Nixon ao jornalista inglês David Frost em 1977. São dois pobres-diabos em busca de redenção. O ex-presidente (Frank Langella) vê aí uma excelente oportunidade para recuperar sua reputação, para sempre manchada pelo escândalo Watergate, que o obrigou a renunciar. O simpático Frost (Martin Sheen) está apostando tudo o que tem, mais sua carreira em declínio, nestes especiais de televisão. Obviamente, Nixon é um peixe esperto demais para o ingênuo entrevistador. Se Todos os Homens do Presidente é o como de Watergate, Frost/Nixon é o por quê. No ponto alto deste jogo de vontades, a última entrevista, o impressionante Nixon de Langella profere uma das grandes frases do cinema — pela qual o Nixon da vida real se guiou e, receia-se, o 45º presidente dos EUA talvez queira revisitar. (Saraiva Digital, GooglePlay, iTunes)


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Sobre Mauricio Sellmann (17 artigos)
A metade mais problemática da Revista Salsaparrilha.

1 comentário em Sete vezes… filmes para a era Trump

  1. Sem dúvidas Idiocracy é o que melhor representa. kkk

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