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O cheiro da salsaparrilha

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Por Maurício Sellmann

No conto “O Perfume de Salsaparrilha”, de Ray Bradbury, William Finch, um homem já idoso, consegue viajar ao passado se trancando com as bugigangas e recordações no sótão da sua casa. Um belo dia, ele avisa Cora, a esposa cética, que não vai mais voltar. Quando ela finalmente sobe para ver o marido, o sótão está vazio. Tudo o que resta ali é aquele aroma de salsaparrilha, do refresco que eles costumavam tomar quando eram jovens.

O conto de Bradbury pode parecer nada mais que uma variação da apologia à nostalgia, onde o passado é sempre mais. É um subgênero de saudosos homens brancos de meia-idade, que inclui o romance Time and Again, de Jack Finney (1970), e o episódio “Walking Distance” da série de TV Além da Imaginação (1959). Porém, no embate entre a esposa amarga no presente e o marido ainda à procura de uma vida melhor não importa quando, Bradbury nos oferece, em oposição à apatia, a eterna busca que assombra o espírito humano. Finch vai ao passado para reaprender sobre quem ele é – Bradbury espertamente jamais sugere que Finch se torna fisicamente jovem no passado. A busca pela sua identidade recomeça no perfume da salsaparrilha.

O passado pode não ser panaceia para o presente e o futuro, mas é sempre o ponto de partida que precisa ser revisitado. A salsaparrilha de  Bradbury não podia ser um símbolo mais apropriado. A planta, vai o dito popular, serve para tudo: afrodisíaca, antiespasmódica, diurética, diaforética, anti-reumática e, claro, rejuvenescedora. Vasculhando seus objetos do passado, Finch se redescobriu, rejuvenesceu. Seu passado não morrera no presente; só estava ali esperando para informar seu futuro com novos olhos. Assim a salsaparilha, a planta da segunda chance.

Neste blog-salsaparrilha, vamos revisitar coisas velhas e não tão velhas, sobre as quais já se escreveu muito – ou muito pouco – para tentar lê-las de uma forma diferente, não necessariamente nova (vade retro, pretensão!), mas diferente. Afinal, esta é a Internet e já se escreveu muito sobre muito. Essa página aqui é somente o nosso sótão, onde redescobrimos aquele filme de que ninguém mais fala, voltamos à narrativa de um jogo com outra disposição, cruzamos a narrativa daquela história em quadrinhos ali no canto com o livro dentro daquela outra caixa. Não traremos a pessoa amada em 3 dias, mas podemos dar a você um convite para revigorar a discussão em torno daquele filme, livro, quadrinho, game. Ou seu bitcoin de volta.

Mesmo este Salsaparrilha já existia antes, por outra pessoa com outras intenções, em outro tempo. Seu criador, provavelmente lusitano, atendia pelo nome de Karrapato, ou Karra para os amigos. Ele imaginou ganhar dinheiro com o blog, tinha uma obsessão semântica por fezes, e uma ansiedade que a sua salsaparilha não deu jeito. Ele a abandonou e partiu para outros remédios. Não sem antes deixar na primeira de suas três postagens uma frase que bem pode servir de apresentação para esta nova Salsaparrilha, que esperamos ter uma vida mais longa:

“Devo ser o único sacana que assim que nasceu começou logo a dar com a língua nos dentes. Assim está bem.”

Siga-nos no Medium, no Twitter e no Facebook. Você pode, ainda, entrar em contato conosco através do endereço eletrônico revistasalsaparrilha@gmail.com.

Sobre Revista Salsaparrilha (40 artigos)
Lê, vê, joga e cura reumatismo.

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